Maggot

lembre-me de ser lírico

ah, mas se no fundo do meu ser
encontrasse o divino descanso da alma
enquanto minha respiração se recolhesse no meu corpo,
quantos arrependimentos deixaria a você ou a ele,
ou a quem quer que seja?
onde passei e deixei
sementes germinarem o chão,
que com tanto carinho preparava o terreno,
sei que floresceu na estação
que chegara primavera e floria
por isso sorria
e recordava vagamente minha memória.
diga-me, tú
o que tivesse pra ser dito, dito teria sido?
apenas deixe-me ir embora
na paz do caminho que o universo guia,
reluz, lumia
deixe pra lá esse arrependimento
ou me diga ainda em vida,
sem correr esse perigo discreto
que é se calar diante de muito a dizer
tudo é vasto, tudo é vago.
fui-me, mas ainda estou aqui
cabe a ti.

nossa casa é aquela mistura gostosa
da nossa intimidade.
nossas plantas, nossos filhos de quatro patas
eu musicista bagunçada
com partituras espalhadas,
um violão na sala, ukulele na sacada.
você organizada e engenhosa
me chamando de folgada
por ser tão espaçosa.
tua cozinha, suas receitas
teu gosto agridoce
nosso carinho que nada fere
nossa casa é o que chamamos de lar
na essência de quem somos
pra quem temos todo o amor mundano
nosso lar somos eu e você
— pode entrar, fique a vontade.

ser responsável e permitir
que o tempo leve
o que precisa ser levado
aceitar a dor
entender sua triz
que será fracionada a cada dia
até que não doa mais
abraçar o seu eu
se dedicar a você
admitir quando está foda
mas acreditar que vai passar
porque curar é superar
— o tempo cura

você me olha
nos olhamos
sorrio como quem já te beijou
como quem te lembra em todos os detalhes
como quem te ama
nesse tempo fracionado em segundos
penso e repenso
e nos perdemos na multidão
onde várias e várias vezes
nossos olhares se encontram
e se encantam, como na primeira vez.

beija minha boca com raiva
raiva de não ter beijado antes
raiva de não ter beijado mais
raiva de ter demorado tanto pra me encontrar
raiva de ter deixado outra pessoa beijar
a mesma raiva que eu sinto
dos dias em que não posso te olhar
e então,
então me tira do sério
que eu tiro a sua roupa
te toco entre as pernas
enquanto devoro o teu olhar
teu gosto agridoce único
libera nossa vontade
aquece essa nossa saudade
— eu sei dos teus toques no silêncio da noite quando pensa em mim

juba sem leoa
mais que cachos
mulher serena
brisa da noite
que sopra o rosto
com frescor macio
olhos latejantes
como a luz da lua
a boca esbanja
o sorriso mais doce que já vi
despertou o melhor de mim
eu não te conheço bem
mas te admiro
meus olhos vibram em par
anseiam te hipnotizar
nos momentos em que conheci
no abraço do acaso mais gostoso que recebi
senti a conexão
que só mulher e mulher
sente.

— atriz

as palavras me invadiram
até mesmo o que ficou por dizer
sem que fosse dito
me acalento no meu pranto noturno
na abstinência que a saudade implica no meu peito
te lembro todas as horas
até quando penso que esqueci
mas você está presente
porque na verdade não foi embora
isso eu mesma descobri
chorei no desespero
na solitude, no obscuro
na abstinência do teu ser
— transbordo.

Sopro.
A banda passava,
ensaiava marchinhas pela rua
O bairro parava, prestigiava.
A certo momento uma ilustre presença
desinibida de alegria
pulava e rodopiava
Era feliz naquela intensidade
de criança em festa
Sopro.
O trompete rugia
o bumbo explodia
a festa que ela amava
ela mesma conduzia
Sopro.
A vida que tanto a maltratava
acabar assim, feliz e na alegria?
Venceu sim.
Sopro.
Basta estar vivo.
O último suspiro
encontrou o som da lira,
Caiu e dormiu.
— Dona Linda.

O caos se orquestrou
como encontros casuais.
Deleitava-me dele,
O caos.
Onde presa numa paranóide
Voava e voava
Até me cortarem as asas
Que cicatrizavam e cresciam
Para que eu tornasse a voar.

e se naquela época eu não fiz
hoje canto
como se toda a minha essência
fosse tua
toda canção, então
destinada
a sua alma nua
assim como me despi
no riso acanhado
do meu ser,
gritante
para que não se recuse a escutar
— me arrependo.

eu sou barco
você é mar furioso
e se navegar nesse teu
a-mar
é ter certeza do náufrago
quero vencer o afogar
nas quebras de ondas violentas
que te afugentam
e, me deixam a deriva

não desfaz do meu amor
que é enorme e mal cabe em mim
transborda mundo afora
a espera da hora
do seu regresso
te busca pelos ares
te puxa pelos braços
te guarda no meu abraço
apertado, lembra?
— como não lembrar?

Minha mente é traiçoeira
penso e falo besteira
Traiçoeira que o diga!
Chega e toca na ferida.
Ferida que não se fecha da noite pro dia
é quando a maldade se cria
Cria liberdade e me atormenta
É quando o clima acinzenta
e fico pensativa
É quando tudo me intriga
Me torno serpente
Fico imponente
Difícil de lidar,
Sobre si.
Com o mal que ali se cria, aprendo.
A farsante hipócrita é domada
Volto a ser feliz comigo.

PUTA!
Assim fui chamada, entre tantos outros nomes
Fui jogada de quatro
De pernas arreganhadas
Meteram a seco.
Perdi as contas de quantos entraram
Quantos precoces (por sorte)
A desculpa? Correção
Violada.
E a desculpa?
O juiz disse que intimido os homens.

meu travesseiro ficou por aí
uma lembrança minha na tua cama
mas já faz tanto tempo
que o meu cheiro você não encontra
te mantenho aqui
como fantasma dentro de mim
que me assombra e ainda assim,
me conforta.

esse desamor, seja qual for
só me assola por me doar demais
me doo e me dói.
na realidade nada se vale
pra ninguém,
e não é querer receber
não é esse o lugar
se doar,
sem ver a quem.
já vali um dedo cortado
o mundo
uma dor falsa
amor não recíproco

no final todo mundo prioriza o que te convém.

eu que sempre cuido de todo mundo
não espero mais encontrar
alguém pra se doar.
— e tá tudo bem, também.

queria me lembrar
de sempre me emocionar
te chamar pra dançar
sempre que uma música tocar
te cantar e encantar
ouvidos e olhar
assim como te olhar é vibrar
uma nota aguda pra alegrar
a alma de quem dança em par

a neblina corre solta
dançante, desliza a flor da pele
líquida, transparente
e eu, me sinto livre
ao ecoar o vasto horizonte
convicta de que ter certeza
na vida não quer dizer nada.
exceto pelo encanto que distrai os olhos e olhares,
o guia da súbita felicidade.

Qualquer coisa cairia bem agora. Uma chuva, uma piada, uma boa conversa, um filme, nossas roupas no chão, nossos corpos na cama, nosso suor no lençol, o aroma da nossa, nós...

te amei pelos olhos
não conhecia teus lábios
eu te amei nos detalhes
aqueles que ninguém repara
descobri cada canto seu
que era invisível aos olhos deles
percorri seu corpo milimetricamente
admirando com meus próprios desejos sutis.
cada curva sua beijada pelos meus lábios
depois das nossas almas se tocarem
e nossos corpos se colidirem
naquela explosão energética
no suor que nos mantinha
te amei, de corpo e alma
em cada conexão que nos era revelada

torço para que vá e demore pra voltar
ou que não volte.
mas meu peito, teimoso de saudade
grita FICA, quase implora
de forma silenciosa
assistindo sua partida
doída e inquieta.
te liberto
na razão do que nunca prendi
mas pode ir
sei que foi bom demais
pra ter um gosto amargo de saudade
na tua boca.

Esperava que os olhos do inverno não encobrissem por tanto tempo nossos olhos do sol. Que sempre que nosso coração resfriasse e a respiração ficasse áspera, pudéssemos então encontrar maneiras de cuidar, com o carinho que merece. Que no fundo do mais fundo abismo pudesse haver luz, seja ela qualquer brecha, ínfima ou tímida, mas que se fizesse presente no céu obscuro. Esperava que nossos enganos devastadores não roubassem o entusiasmo de semear de novo, que aprendêssemos que com o erro não devemos persistir. Que os pés calejados, da caminhada descalça que é cultivar sentimentos, quando valentes, em dias feridos não nos impedisse de sentir coragem e ter esperança. Que quando doesse, nosso cansaço procurasse um canto de paz na brisa mais leve da nossa mente para descansar. Que o medo existisse, porque ele não deixa de existir, mas que não fosse grande o bastante para ceifar o nosso amor. Que a gente não desistisse de sermos quem somos, por nada, nem ninguém nesse mundo. Que reconhecêssemos o valor do outro, sem esquecer do nosso próprio. Que as mentiras não confundissem verdades. Que friagem nenhuma fosse capaz de cabular nosso calor mais bonito. Que não perdêssemos de vista e nem de sonho a ideia de alegria. Que apesar de todos os pesares, continuássemos tendo valentia o suficiente para não abrir a mão de se sentir feliz.
— I wish I could.

Levo comigo, mesmo que com memória falha.
Cada detalhe, curva, lugar explorado, momentos.
Mas a realidade que de fato me contempla,
No acaso do ocaso
O saber do céu lidar com o fim.

minha doce concepção me diz
através da intuição
que você encontrou outro alguém,
e eu aceito.
dizem por aí que o vento trocou de direção,
chegou a nova estação,
e eu aceito.
mas veja bem, não é que não te amo mais
amo até demais
chega dói o peito.
porém, se amar é libertar,
eu aceito.
— Pode ir.

minto, sou descarada
mas meu coração te conhece
merda!

abracei-te
intensamente
como quem agarra sonhos
como quem agarra a saudade
senti, em ti, anos ancestrais
sabedoria mãe nata
natureza transbordada
na meditação da mente matinal
que me guiou ao encontro teu

tô acabada
devo admitir
me embriaguei de boa saudade
ao ver você partir

me perdi, no fundo dos teus olhos
escolhi deixar meu canto só
e, revivi de novo nossa vida

te deixei num canto da memória
mas reli de fato nossa história
e, descobri que eu me amava com você

é que eu achava que eu tinha tempo
todo tempo do mundo com você
basta estar vivo pra doer
a vida de quem foi

alguém pro mundo compartilhar
mostrar o belo através dos olhos
acrescentar poesias nos dias
mostrar o que é bonito
e o que tanto me preenche
a alma de vida
— a sorte de um amor tranquilo

Na primavera te conheci,
mas tudo aconteceu no verão
Você se apaixonou pelas minhas flores,
as regava e amparava, cuidadosamente
O problema é a chegada do outono,
você não sabe o que fazer.
Se esqueceu das minhas raízes e agora está perdido,
pois sabe que vai me perder.
Assim como as árvores perdem suas folhas.
Assim como tudo começa a se esfriar.
Ciclos chegam ao fim para que outros comecem.
Esse saber vida e morte é injusto
Mas estações existem para que o tempo passe.

Passaram-se dias.
Nada expressei aqui,
Passaram-se dias,
dias em que nada escrevi.
Passaram-se dias
em que nada senti.
Passaram-se os dias
e eu me perdi.

( Made with Carrd )